Correios registram prejuízo de R$ 2,6 bilhões em 2024, aponta demonstração financeira
Este é o primeiro prejuízo bilionário da estatal desde 2016. Demonstração financeira foi publicada nesta sexta-feira (9). Placa dos Correios. Reprodução ...

Este é o primeiro prejuízo bilionário da estatal desde 2016. Demonstração financeira foi publicada nesta sexta-feira (9). Placa dos Correios. Reprodução A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, os Correios, publicou no Diário Oficial da União desta sexta-feira (9) a demonstração financeira referente ao ano de 2024 com um prejuízo de R$ 2,6 bilhões. Além disso, auditoria independente ressalvou dados contábeis da empresa. (leia mais abaixo) O déficit em 2024 é quatro vezes maior do que o registrado no ano anterior, quando o prejuízo registrado foi de R$ 597 milhões. Na apresentação deste ano, os Correios reajustaram os dados de 2023 para melhor representar as normas contábeis e o resultado final do ano anterior acabou subindo para R$ 633 milhões. 🔎O termo "déficit" significa que o gasto somado foi maior que a receita que ela conseguiu gerar no ano. Esta é a primeira vez, desde 2016 que os Correios apresentam um prejuízo bilionário em suas operações. À época, a empresa teve prejuízo de R$ 1,5 bilhão (R$ 2,3 bilhões em valores atualizados). Impactos no resultado Entre os motivos que impactaram o resultado dos Correios está a redução da receita com a prestação de serviços. Neste ano, o total foi de R$ 18,9 bilhões contra R$ 19,2 bilhões em 2023, R$ 335 milhões a menos. Esse foi a menor receita desde 2020, quando a empresa registrou R$ 17,2 bilhões de receita. Por outro lado, os custos operacionais aumentaram R$ 716 milhões em relação ao ano anterior. Passando de R$ 15,2 bilhões para R$ 15,9 bilhões. Esse é o maior custo anual realizado pelos Correios desde 2017, quando a empresa gastou R$ 16 bilhões. Uma outra conta que sofreu forte impacto no resultado foram as despesas gerais e administrativas, que atingiram o maior valor histórico, totalizando R$ 4,7 bilhões em 2024. Um aumento de R$ 655 milhões em relação a 2023. Já o resultado financeiro da empresa, que registra as receitas com aplicações financeiras e as despesas, por exemplo, com empréstimos, também apresentou um resultado negativo de R$ 379 milhões. Em 2023, no resultado reapresentado, o valor total tinha sido positivo em R$ 44 milhões. No ano passado, os Correios gastaram R$ 846 milhões em despesas financeiras e tiveram uma receita de R$ 466 milhões. Opinião com ressalva A auditoria externa, feita Consult - Auditores Independentes, aplicou uma ressalva à demonstração financeira após identificar "fragilidades nos critérios utilizados e nos controles internos empresariais" para mensuração dos passivos contingentes - conta contábil que registra a possibilidade de perdas judiciais que uma empresa pode ter. Apesar da conta ter previsto uma perda de R$ 2,7 bilhões no passivo da empresa, afetando o resultado da empresa, a auditoria apontou que o valor pode ser inconsistente com a realidade. "Consequentemente, não foi possível, nas circunstâncias, ainda que por meio de procedimentos alternativos de auditoria, concluir sobre a adequação do saldo da provisão para contingências vinculadas aos processos, bem como os possíveis reflexos no resultado do exercício", justificou a auditoria. Prejuízo reduziu Em janeiro, quando o Ministério da Gestão e Inovação (MGI) apresentou o resultado do 3º trimestre das empresas estatais, os Correios estavam com um prejuízo de R$ 3,2 bilhões, que foi ligeiramente reduzido no último trimestre. Puxado pelos Correios, estatais têm pior déficit da série histórica Na época, o ministério afirmou que durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro os Correios deixaram de investir, encerraram contratos e perderam receita ao serem incluídos no Plano Nacional de Desestatização e que por isso vinham apresentado sucessivos lucros. Para justificar o prejuízo e reforçar um posicionamento contrário a privatização dos seus serviços, os Correios utilizaram de um lema que vem sendo utilizado durante o governo Lula logo na abertura do relatório de administração que aborda os resultados de 2024. "Os Correios são indispensáveis porque são públicos. Em um País continental como o Brasil, só uma empresa gigante com vocação social é capaz de conectar pessoas, viabilizar oportunidades de negócios e promover cidadania", justificou. Frustração de receitas Em abril, um estudo produzido pela empresa apontou uma frustração de receita de R$ 2,2 bilhões em função do fim da isenção de imposto sobre importações de até US$ 50 dólares. Presidente dos Correios, Fabiano Silva José Cruz/Agência Brasil Recentemente, o presidente da empresa, Fabiano Silva, afirmou ponderou que a mudança na lei em 2024 permitiu, ainda, que outras empresas de transportes façam o frete pelo Brasil de mercadorias internacionais, o que resultou na diminuição do domínio dos Correios sobre esse tipo de serviço. "A gente tinha uma participação nesse segmento internacional em torno de 98% de mercado, ou seja, quase dominante, quase exclusivo nesse mercado. No mês de janeiro, a gente está em torno de 30 e poucos por cento", criticou. Segundo o documento, antes de ela entrar em vigor, os Correios estimavam arrecadar R$ 5,9 bilhões com o transporte de mercadorias importadas da China em 2024. Entretanto, com o surgimento da lei, o total efetivamente arrecadado foi de R$ 3,7 bilhões, ou R$ 2,2 bilhões a menos. "A essa altura [em referência a 2024], os operadores [as empresas que vendem, tipo Shein, Aliexpress e Amazon] avançaram na estruturação de operações próprias e, com isso, iniciou-se, também, um movimento de migração de carga para esses canais. Como efeito prático, os Correios começaram a perder participação no mercado", afirma o estudo. Correios vão lançar marketplace próprio Para ajudar a contornar a situação, os Correios assinaram em abril uma parceria para lançar um marketplace próprio com o objetivo de trazer novas receitas para a estatal. “Somos o primeiro e único marketplace brasileiro capaz de realizar entregas, com estrutura própria, em qualquer lugar do país, democratizando o acesso ao comércio digital”, afirmou Fabiano.